Como a silepse é capaz de abrigar a concordância de pessoa, gênero
e número sob o teto do contexto.
Veja no poema abaixo:
A MESA, DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE .
Como pode nossa festa
ser de um só que não de dois?
Os dois ora estais reunidos
numa aliança bem maior
que o simples elo da terra .
Estais juntos nesta mesa
de madeira mais de lei
que qualquer lei da república.
Estais acima de nós,
acima deste jantar
para o qual vos convocamos
por muito - enfim - vos queremos
e, amando, nos iludirmos
junto da mesa
vazia.
Comentários a ser
feitos.
A IMPORTÂNCIA DA
SEMÂNTICA - FIGURAS DE LINGUAGEM
A interpretação
contextualizada é primordial, para que acompanhe as formas de linguagem que
estão sendo usadas nos veículos de comunicação na era contemporânea. Observa-se
nesta passagem do poema a mesa, de Carlos Drummond de Andrade, o verbo
"estar" aparece três vezes na segunda pessoa do plural,
"estais", apesar de o sujeito ser a palavra "dois", que
exige o verbo na terceira pessoa do plural. Além disso, ocorre duas vezes
"vos", pronome pessoal oblíquo de 2ª pessoa do plural, referindo-se
às duas pessoas de que fala o poema.
Nesse texto, o poeta
dirige-se ao pai, descrevendo como seria um grande jantar mineiro em sua
homenagem. Ao reunir a família inteira, mortos e vivos, funde dimensões
temporais e espaciais. O poeta está sozinho à mesa, falando com o pai já morto.
A mesa condensa a unidade e a dualidade. O poeta resgata a figura materna e,
assim, a festa deixa de ser só do pai e passa a ser de dois, o pai e a mãe.
Ao incorporar a mãe à
festa, confere a ela a dimensão do afeto e, paradoxalmente, essa grandeza
conduz ao vazio. A passagem da unidade à dualidade é dada pelo sujeito
"dois". Não poderia o poeta usar apenas o pronome "vós",
pois não teria ele a força de indicar a duplicidade a que ele se endereça.
REVISTA LÍNGUA -
Editora segmento.
Dúvidas? Entrem em contato com a Professora Juliana Gouvêa!
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