Por isso, no processo de alfabetização, o agente
alfabetizador precisa ter plena consciência de que nem tudo o que se escreve
se pronuncia, nem tudo o que se pronuncia se escreve, e que a ortografia é
um conjunto de símbolos, em boa medida arbitrariamente escolhidos,
empregados para escrever, os quais, como todo símbolo, exigem um
conhecimento prévio para sua interpretação, uma iniciação, uma vez que
seu significado não pode ser deduzido apenas de sua figura. Nem tudo que parece
um o soa como (o) . Por isso, a ortografia nunca deve ser
considerada como um "retrato fiel" da língua falada. Também é
preciso estar ciente de que não é a escrita que determina a fala, mas
exatamente o contrário: para tentar registrar a língua falada é que surgiu a
escrita. E não há nada na escrita que faça dela uma entidade supostamente mais
importante e mais organizada do que a língua falada. Essa suposta importância
é fruto exclusivo de fenômenos socio culturais e político-ideológicos
relacionados à natureza grafocêntrica das sociedades ocidentais.
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